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EDSON ROGATTI: UM LÍDER DEFENSOR DAS ENTIDADES FILANTRÓPICAS NA SAÚDE
07/12/2017

Sempre presente nos mais diversos eventos do setor, Dr. Edson Rogatti é lembrado por seu desempenho, entusiasmo e liderança em prol das instituições filantrópicas na área de saúde. Não à toa, ele é presidente da CMB – Confederação das Santas Casas e Entidades Filantrópicas, diretor-presidente da Fehosp – Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo e presidente da Santa Casa de Misericórdia de Palmital (SP). Pós-graduado em Administração Hospitalar, também foi secretário e vereador da Câmara Municipal de Palmital e chefe de gabinete da prefeitura do mesmo município. Nesta entrevista, ele conta como vem atuando no setor e revela seu verdadeiro desejo em contagiar colegas provedores e administradores em favor da causa.

Quais as sementes que as instituições que você lidera estão plantando para reconhecimento do setor?

O ano de 2016 foi marcado pela insegurança. As entidades filantrópicas nunca tiveram tantas dúvidas em relação à continuidade de seu trabalho. Além da crescente desvalorização da tabela SUS, as imunidades fiscais que recebemos foram ameaçadas de chegar ao fim, o que levaria o sistema a um colapso quase que imediato. Muitos brasileiros perderam seus empregos e, com eles, seus planos de saúde privados, o que aumentou o número de atendimentos, cirurgias e tratamentos pelo SUS. Diante de todo este cenário, nosso trabalho pela valorização da filantropia no país foi ainda mais reforçado e, depois de muito diálogo com os parlamentares, conseguimos, no final do ano passado, a liberação de R$ 513 milhões para filantrópicos e a ampliação do prazo de carência da linha de crédito Caixa Hospitais, de 84 para 120 meses.

Quais os maiores desafios que essas entidades enfrentam atualmente?

As Santas Casas no estado de São Paulo estão endividadas com os sistemas de custeio para suas despesas, em especial a quitação da folha de pagamento. A incidência de reajustes de salário tem, em sua grande maioria, nas negociações coletivas, o repasse do INPC do período. Os percentuais neste contexto são superiores aos repasses dos serviços prestados pelas entidades sem fins lucrativos. Ademais, a concorrência no mercado de trabalho requer a inclusão de benefícios aos colaboradores, no entanto, a realidade é manter os empregados, pois, em muitos casos, inexiste a possibilidade de quitação dos salários. A grande quantidade de entidades no estado não consegue cumprir as Convenções Coletivas de Trabalho, assim demonstra-se a realidade do segmento, com inúmeras instituições sem condições de cumprir obrigações trabalhistas e até mesmo a quitação do décimo terceiro salário, vide a situação nas cidades de Palmital e Assis face às paralizações de seus funcionários. Desta forma, o problema não é a gestão das entidades, mas o insuficiente repasse financeiro dos atendimentos prestados. Na região sudeste, essas instituições realizam mais de 52% dos atendimentos em municípios com até 30.000 habitantes, sendo, muitas vezes, o único equipamento de saúde da cidade. Caso seja interditado ou fechado, a população será extremamente prejudicada.

Quais as perspectivas para os próximos anos?

A Fehosp representa, atualmente, mais de 300 instituições beneficentes e, a cada ano, reforça a sua posição de ser referência no setor nacional, com grande força política junto aos governos estadual e federal. Durante estes anos de existência, realizamos muitos movimentos e alcançamos diversas vitórias, o que nos deu credibilidade entre as entidades filantrópicas. Para 2017, a entidade está à frente, junto ao FONIF – Fórum Nacional da Instituições Filantrópicas, entidade da qual é membro, na luta pela continuidade das imunidades fiscais.

Qual a importância dos hospitais sem fins lucrativos para a sociedade?

Quando o SUS foi criado, o Brasil não dispunha de estrutura pública suficiente para oferecer a assistência universal que prometia, por isso, o governo federal fechou um acordo com as Santas Casas e os hospitais filantrópicos, em que elas deveriam atender toda a população e seriam remuneradas de acordo com os valores da “Tabela de Procedimentos do SUS”. Somos responsáveis por 56% de todo o atendimento SUS no país e, ainda, 63% das internações de alta complexidade, 59% dos transplantes e 69% das cirurgias oncológicas. Além disso, em muitos estados brasileiros, somos a única opção de atendimento gratuito à população.

Fale sobre o Projeto de Lei no 7606/2017, sancionado no dia 5 de setembro, que cria o Programa de Financiamento específico para Santas Casas e hospitais filantrópicos que atuam no SUS.

Este projeto, de autoria do senador José Serra (PSDB), concede duas linhas de crédito para as Santas Casas e entidades filantrópicas que atendem pelo SUS: uma de reestruturação patrimonial e outra de capital de giro. Ele não resolve o problema do setor, mas traz um novo fôlego.

Como seguir com otimismo perante a tantas dificuldades?

O Brasil vive um momento de grandes conturbações. A crise econômica, financeira e política tem provocado insegurança em todos os setores e na sociedade em geral, o que não é diferente do que vem ocorrendo no âmbito da saúde pública. Estamos vivenciando uma situação inédita em que os hospitais sem fins lucrativos vêm sistematicamente sendo subfinanciandos pelo SUS. Acho que neste momento estamos conseguindo um novo relacionamento entre a CMB e o Ministério da Saúde, muitas concessões terão de ocorrer e sinto que ambos estão dispostos a negociar. Estamos muito otimistas e entusiasmados com o planejamento para o próximo ano, mesmo sabendo das dificuldades do governo para aumentar o financiamento na saúde.

Quais são os valores que permeiam sua atuação?

Cabe ao administrador e ao presidente da CMB/Fehosp, em tempos normais ou de crise, a responsabilidade de assegurar a sobrevivência das instituições. Precisamos garantir solidez, nos adaptar ao cenário atual e aproveitar as oportunidades que surgiram, mesmo nesta época turbulenta, afinal, é para isso que fomos escolhidos e essa é a essência da administração. A minha atuação é administrar com eficácia e eficiência a CMB e a Fehosp.

Como é sua rotina diária?

Sou uma pessoa que levanta muito cedo para assistir aos noticiários e ler o jornal. Chego bem cedo na CMB/Fehosp, sou organizado com minha agenda e procuro atender todos os associados, bem como participar de seminários e congressos e visitar os hospitais filiados. A minha maior preocupação é com nossas Santas Casas e hospitais filantrópicos, por isso procuro sempre entender suas angústias e auxiliá-los na condução de seus pleitos junto aos mais variados atores do sistema. Procuro estar atento aos acontecimentos nefastos no âmbito da saúde pública e suplementar.

Conte uma passagem marcante de sua trajetória.

Foi quando era presidente da Santa Casa de Misericórdia de Palmital, município de 22.000 habitantes, associada à Fehosp, e fui procurado pelos seus diretores para ser presidente de uma entidade com mais de 300 associados e, logo em seguida, acabei sendo escolhido para liderar a CMB. Foi um grande voto de confiança no meu trabalho. Sou grato pela oportunidade.

Como sua vida profissional e pessoal se mesclam?

Gosto muito do que faço. De segunda a sexta-feira dedico todo o meu tempo ao trabalho das nossas entidades, defendendo ou viajando para visitar as Santas Casas, participando de cursos, seminários, congressos, aprendendo, conhecendo os desafios da nossa gestão complexa, fazendo relacionamentos, buscando ampliar e estreitar ainda mais as parcerias com os gestores públicos, sempre com o intuito de viabilizar as questões de interesse do setor.

O que gosta de fazer em seus momentos de lazer?

Gosto muito de ficar em casa com a família, conversar e ler. Aproveito os feriados e fins de semana para pescar e, sempre que posso, vou a Mato Grosso do Sul, pescar com meus amigos e familiares.

Quais seus planos para o futuro?

Continuar trabalhando até quando Deus me permitir, pescando e ajudando o próximo, como tenho feito. É muito importante inovar para sobreviver e por isso vou seguir em frente. Quero contagiar meus colegas provedores e administradores, quero promover oportunidades para que todos os hospitais tenham acesso a projetos e a novos caminhos. Quero fazer parte do grupo que vai estruturar a saúde brasileira e ofertar mais para a população.


Publicada na Revista Hospitais Brasil edição 87