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Surto de microcefalia leva grávidas a cancelar viagens ao Nordeste do país

Uma cancelou sua ida a um casamento no Recife

 A outra abandonou, ao menos por ora, o sonho de conhecer Pernambuco com o marido. A terceira não passará mais as férias em uma praia paradisíaca no sul da Bahia.
 

Grávidas, as três cancelaram viagens a Estados do Nordeste com medo do crescente surto de casos suspeitos de microcefalia, má­formação do cérebro que pode trazer limitações ao desenvolvimento da criança.
 
Segundo o governo federal, o avanço dos casos está relacionado à infecção das gestantes pelo vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chikungunya.
 
O surto de microcefalia está concentrado no Nordeste. De 1.248 casos suspeitos neste ano no país, 1.219 estão nessa região. O líder é Pernambuco, 646 casos.
 
Para se ter uma ideia do atual volume de casos, ao longo do ano passado, por exemplo, foram apenas 147 registros em todo o país. A pernambucana Mariana Martins, 33, que mora em Brasília, cancelou viagem ao Recife (PE) na última semana.
 
Como medo do zika, ela deixou de ir a um casamento, no qual seria madrinha, para preservar o filho. Está na 12ª semana de gestação. "Achei melhor evitar [a viagem] por um bem maior."
 
Em São Paulo, quem cancelou a viagem foi Elisângela Cabral, que planejava as férias com o marido. "Acompanhamos as notícias e, por precaução, melhor cancelar", diz a dona de casa, que está no quarto mês de gravidez.

 
O casal tenta agora evitar o pagamento de multas cobradas pelo hotel, que já havia confirmado a reserva. Grávida de dois meses e meio, a psicóloga Juliana Breschigliari, 33, cancelou a viagem com o marido, em janeiro, para Prado, no sul da BA.
 
Por recomendação médica, decidiu ficar na capital paulista. "Preferi não arriscar." Segundo o governo, os registros já ocorrem em 311 municípios de 14 Estados do país.
 
No Jardim América, na zona oeste de SP, a clínica Célula Mater recomendou a suas pacientes gestantes que evitem viagens ao Nordeste. Lucila Pires Evangelista, ginecologista obstetra da clínica, diz que muitas têm pedido informações sobre os riscos.
 
"A gente ainda não tem a noção real do problema, de maneira ampla. Quanto menos a gente sabe, mais receoso a gente fica. Então, por prudência, achamos melhor desaconselhar as viagens."
 
O Nordeste esperava lucrar na temporada de verão com a subida do dólar. Agora, a estimativa é de queda de ao menos 20% nas reservas para dezembro, em comparação o mesmo mês de 2014.
 
Turistas têm telefonado, preocupados, em busca de informações sobre a epidemia.
 
"O impacto vai acontecer. Todos estão preocupados com algo ainda desconhecido", diz o coordenador do curso de turismo da Universidade Federal de Pernambuco, André Durão.
 
Segundo ele, o setor de turismo é muito sensível, como demonstrou, por exemplo, a epidemia de dengue no Rio, que em 2008 provocou uma queda de 30% no movimento turístico. "Em Pernambuco, na década de 1990, a vilã foi a cólera, que derrubou o faturamento dos empresários."
 
Dono do Solar Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE), Artur Maroja, que também é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em PE, diz que pelo menos não há cancelamentos.

"Mas turistas que procuram reservas estão perguntando sobre a situação [do surto]."
 
Para evitar a desidratação turística, Estados e municípios preparam uma mobilização. O secretário de Turismo de PE, Felipe Carreras, por exemplo, articula um posicionamento conjunto com Estados da região. Já em Alagoas, Estado, Prefeitura de Maceió e Ministério Público criaram uma comissão para esclarecer dúvidas.
 
'FUGA'
A médica pernambucana Gabriela Raposo, 32, estava na décima semana de gestação de seu segundo filho quando viu nos jornais as primeiras notícias de um surto de microcefalia em seu Estado.
 
Começou então a pensar na possibilidade de se mudar do Recife até que os médicos entendessem a origem e, principalmente, a melhor forma de se prevenir da doença. "Em dois dias eu estava em Brasília", conta ela.
 
Segundo Gabriela, quando decidiu mudar­se temporariamente de Pernambuco, há duas semanas, as informações sobre a doença ainda eram muito poucas.
 
"Ainda não estava confirmada a relação entre o vírus zika e a microcefalia. Dizia­se que a causa da doença poderia estar em uma possível contaminação da água ou em outra virose qualquer".
 
Com medo, ela disse ter ficado enclausurada em casa, de janelas fechadas. Gabriela e o marido, que também é médico, decidiram então que ela deveria  Gabriela e o marido, que também é médico, decidiram então que ela deveria se mudar para uma cidade que ainda não tivesse registros de contaminação pelo vírus zika. Encontraram abrigo na casa de uma prima, que mora no Distrito Federal. Ela mudou­se com o filho, e o marido visita a família aos finais de semana.
 
Em Brasília, soube que em seu antigo prédio foram encontrados quatro focos do mosquito transmissor do zika.
 
Gabriela quer retornar para Pernambuco apenas em uma fase mais avançada da gravidez, quando acredita que seriam menores os riscos de microcefalia causada por uma contaminação.

"Caso a situação não seja controlada já pensamos, inclusive, em deixar o país". O casal estuda ir aos Estados Unidos para se afastar do risco de contaminação.