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Estados lançam ações para reagir a surto de microcefalia

Após o Ministério da Saúde confirmar a relação da microcefalia com o vírus zika, os Estados começam se mobilizar para enfrentar o aumento crescente de casos da infecção que provoca má­formação do cérebro de bebês.

 

Pernambuco decretou neste domingo (29) estado de emergência por causa do Aedes aegypti, o mosquito que transmite a zika, a dengue e o chikungunya. São Paulo ofertará teste para zika no SUS e, na Bahia, está previsto mutirão de

ultrassons em bebês com microcefalia.

Além da má­formação, o zika também está associado a uma doença autoimune que pode causar paralisia (síndrome de Guillain­Barré). Já o chikungunya pode provocar inflamação nas articulações e dor que às vezes dura anos.
 
"A situação é extremamente grave. Os casos de zika estão concentrados no Nordeste, mas nada garante que será diferente por aqui. Não há fronteiras para o mosquito", diz o infectologista David Uip, secretário da Saúde do Estado de São Paulo.
 
Para Uip, a gravidade da situação é similar àquela enfrentada no início da epidemia de Aids, na década de 80. "É como foi na Aids. Não sabíamos nada sobre o vírus, fomos aprendendo no dia a dia. O zika é diferente de tudo o que vimos até hoje."
 
Uip afirma que o impacto do zika nos custos dos serviços públicos é imprevisível. "As crianças com microcefalia nascem muito comprometidas, vão precisar de terapias diversas. A síndrome de Guillian Barré pode demandar UTI e medicamentos caros."
 
De acordo com ele, o Instituto Adolfo Lutz deve começar a realizar o teste de diagnóstico para zika nas próximas semanas. Ainda não está definido, porém, a quantidade de testes disponíveis e nem quem terá prioridade.
 
Para o infectologista Artur Timerman, presidente da recém­criada Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, seria necessário testar todas as pessoas sintomáticas.
 
"Temos mais de 600 mil casos suspeitos de dengue. Quantos desses podem ser zika ou chikungunya? Nós não sabemos porque não testamos", afirma.
 
EXAMES
 
Na rede privada, o laboratório Fleury planeja ofertar o teste para zika em 15 dias, segundo o infectologista Celso Granato, diretor clínico.
 
Granato afirma que a procura pelo exame e por orientações sobre o zika é grande. "As pessoas ligam perguntando: \'minha filha está grávida e tem um casamento na Bahia. Ela pode ir? Eu digo que, não é hora, ainda mais no início da gestação. Todo cuidado é pouco", afirma.
 
Em Salvador (BA), a Caliper, uma escola privada de ultrassonografia, fará no próximo sábado um mutirão de exames em bebês com microcefalia para avaliar a extensão das lesões cerebrais.
 
Segundo o obstetra Manoel Sarno, nem todas as gestantes estão conseguindo fazer o ultrassom transfontanela (um exame mais específico que visualiza as estruturas cerebrais, alterações no corpo caloso e de fluxo de alguns vasos sanguíneos cerebrais) na rede pública de saúde.
 
Sarno, que já avaliou 42 casos de microcefalia, diz que está sendo muito comum as lesões só aparecerem no ultrassom após da 26ª semana de gestação. "É um choque para as grávidas."

Foi o que aconteceu com Drielle Oliveira, 25, que só descobriu a microcefalia no bebê na 35ª semana de gestação. Ela tentava engravidar havia seis anos.
 
"O bebê estava normalzinho nos dois morfológicos que fiz. Quando me contaram [sobre a microcefalia], comecei a gritar. A gente faz tudo direitinho, segue as recomendações do médico para depois ter uma notícia dessas?", disse à Folha na última quinta (26). No sábado (28), o bebê morrer. Ela estava na 38ª semana de gestação.