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Demora no atendimento é apontada como principal causa de agressão a médicos

Levantamento do Datafolha, em conjunto com Cremesp e Coren, mostra dados sobre violência em unidades de saúde de São Paulo

 

A abertura de um espaço de ouvidoria no site do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), em maio, para que médicos pudessem reclamar sobre a violência nos hospitais de São Paulo trouxe números surpreedentes para a entidade. Após uma semana, chegaram cem reclamações ao canal. No primeiro mês, mil.

 
Os médicos não são os únicos que se queixam da violência no sistema de saúde. O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren) também registrou aumento de casos relatados por enfermeiros, auxiliares e técnicos.
 
Em conjunto com o Datafolha, Cremesp e Coren lançaram pesquisas que mostram números das agressões no local de trabalho.
 
Os números das agressões sofridas por médicos
O Cremesp realizou duas pesquisas para entender e identificar a causa da violência nos hospitais de São Paulo. A primeira com a visão do médico, e a segunda na visão do paciente.
 
As pesquisas aconteceram entre setembro e outubro de 2015 no sistema público e privado de saúde. A amostra dos médicos revela que 85% dos casos de violência aconteceram no Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Entre os entrevistados, 17% disseram que já sofreram agressões ou conhecem pessoas que passaram por situações que envolviam violência. Há relatos de agressões verbais (85%), psicológicas (80%), e físicas (20%). Em todos os tipos de violência, a maior parte das vítimas era de mulheres.
 
O principal motivo das agressões sofridas por médicos, segundo os pacientes, é a demora no atendimento (41%), seguido pelo comportamento e a postura do médico (19%), a falta de médicos que gera a lotação em hospitais (18%).
 
Entre os pacientes entrevistados, 2% disseram já ter agredido um médico. Em depoimento, uma paciente de 56 anos disse que durante a consulta o médico nem olhou para ela. “É um péssimo profissional, totalmente despreparado. Então, na consulta médica rasguei a guia e joguei em cima dele.”
 
Entre as causas para um ambiente conflituoso nas unidades de saúde, existe a baixa remuneração dos profissionais, as longas jornadas, a falta de equipe e equipamento. Pelo lado dos pacientes, a espera para o atendimento que leva a um hospital cheio faz com que eles se sintam cada vez mais distantes do médico.
 
“O profissional não foi treinado para esse tipo de conflito. Na faculdade ou na residência, falta um ensino que o ajude a lidar com esse indivíduo que se sente distante do médico, principalmente, depois de um plantão de 12 horas, realidade que muitos médicos enfrentam”, disse o presidente do Cremesp, Bráulio Luna Filho.
 
Enfermeiros: 83% das vítimas de agressões são mulheres
A primeira pessoa que atende um paciente no hospital é o auxiliar. Depois, há a interação com os enfermeiros. Para Fabíola de Campos Braga Mattozinho, presidente do Coren, os enfermeiros são a linha de frente do hospital, e por isso, acabam mais suscetíveis a possíveis ataques de violência.
 
O levantamento realizado entre setembro e dezembro de 2015 mostra que 77% dos enfermeiros já sofreram ou testemunharam casos de agressões nos hospitais. E, de novo, as mulheres são as que mais sofreram. Dentro desse grupo de agredidos, 83% eram mulheres.
 
Entre os tipos de violência, as mais graves são a psicológica (81%), a física (24%) e até o assédio sexual (11%). Em 53% dos casos, o agressor era o próprio paciente. Mas 40% dos casos foram provocados pela chefia e 25% pelos colegas de profissão.
 
O grande problema desses casos é que 87% dos profissionais não denunciam quando sofrem algum tipo de violência. E daqueles que fazem a denúncia, 95% não tiveram sucesso com a queixa ou um retorno.
 
Os dados que o Coren juntou serão encaminhados a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, onde há uma promessa de que um projeto piloto de segurança, a favor do trabalhador da saúde, seja colocado em prática.