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Agravamento da crise pode fechar as portas da Santa Casa

Temor é que problemas na Saúde da região aumentem a procura pelo hospital, em situação precária

 

O provedor da Santa Casa de Santos, Felix Alberto Ballerini, teme que o hospital feche as portas em breve. A crise na Saúde da região assusta o administrador da entidade, que já está endividada em mais de R$ 180 milhões. Um empréstimo aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no começo de novembro ainda não chegou.

 
Ballerini reuniu a imprensa da região, ontem, para anunciar o alerta e a crise que atinge a Santa Casa. Com a paralisação do atendimento nas unidades de saúde de São Vicente e a interrupção dos serviços do Hospital Santo Amaro, em Guarujá, ele teme que a demanda dos outros municípios recaiam sobre a entidade em Santos.
 
Até quarta-feira, a UTI neonatal do Hospital Municipal de Cubatão também estava paralisada, o que gerou ainda mais temor a Ballerini. Ontem, no entanto, a prefeitura cubatense anunciou a retomada dos serviços na unidade.
 
O hospital está no limite, afirma o provedor. Ele conta que alguns médicos estão sem receber há quase quatro meses. “Eles estão sendo muito compreensivos com a situação do hospital e ainda não paralisaram”, complementa.
 
Profissionais de três setores, no entanto, ameaçam parar caso não recebam seus salários e benefícios até o dia 1 de janeiro. Estão ameaçadas as áreas de anestesia, oncologia e hematologia. “A anestesia, por exemplo, é o maior setor da Santa Casa, o que mais demanda recursos também. Se a anestesia parar, a Santa Casa fecha”, ressalta Ballerini.
 
Sem receber há 4 meses
 
O setor de pediatria está funcionando com 30% a mais de sua capacidade. Leitos com crianças estão posicionados nos corredores da área. “Coisa que nós nunca fizemos é ter que colocar criança em maca, no corredor. Hoje, se você andar pelo hospital, vai ver isso”.
 
A capacidade para a enfermaria pediátrica é de 60 leitos, além 12 leitos na UTI pediátrica, e mais 13 leitos na UTI neonatal.
 
“Hoje (ontem), a Santa Casa está funcionando. Amanhã (hoje), eu já não sei mais”, disse Ballerini, sobre a previsão de quanto tempo mais a entidade consegue permanecer endividada como está. O provedor conta que alguns médicos estão sem receber há até quatro meses. “Eles estão sendo muito compreensivos com a situação do hospital e ainda não paralisaram”, complementa.
 
Empréstimo
 
Desde abril, a Santa Casa negocia o empréstimo junto ao BNDES para amenizar a situação de risco. Hoje, a dívida do hospital está acumulada em R$ 180 milhões. 
 
Em junho, o montante chegava a R$ 170 milhões, mas o déficit mensal do hospital atinge até R$ 2,5 milhões. Ou seja, de junho até agora, mais de R$ 10 milhões se somaram ao endividamento da entidade.
 
A Santa Casa negociava no sentido de conseguir o empréstimo de R$ 141 milhões junto ao BNDES. No entanto, a Caixa Econômica Federal não autorizou a quantia, conforme regra de cálculo para empréstimos a hospitais filantrópicos: o endividamento pode chegar a até 30% da receita SUS (repasse do Sistema Único de Saúde às instituições que atendem SUS). No caso da Santa Casa de Santos, a entidade só está autorizada a emprestar R$ 94 milhões.
 
O montante servirá para pagar dívidas de outros empréstimos e parte das dívidas com honorários médicos e fornecedores, afirma a diretora financeira da instituição, Miriam Cajazeira Diniz. “A verba deve, apenas, amenizar a dificuldade financeira que a Santa Casa enfrenta”, ressalta Ballerini.
 
Sem resposta
 
A reportagem de A Tribuna entrou em contato com o BNDES para saber quando o empréstimo já autorizado será repassado à Santa Casa. Até o fechamento desta edição, no entanto, a instituição financeira não respondeu.
 
Contribuição
 
Todo contribuinte santista que recebe o carnê do Importo Predial Territorial Urbano (IPTU) poderá fazer uma contribuição de R$ 10,00, em parcela única, para a Santa Casa de Santos a partir de ano que vem. O boleto será anexado no carnê do imóvel e será de pagamento facultativo.
 
A novidade foi publicada ontem no Diário Oficial de Santos, na Lei 3.223, com a criação do programa de Contribuição Facultativa Voluntária de Ajuda Pecuniária Destinada ao Auxílio do Hospital da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito.
 
Essa folha se junta a outras contribuições facultativas, como: a Taxa de Sinistro, a contribuição à Codevida, ao Fundo Social de Solidariedade. “A Santa Casa de Santos é da comunidade santista, só que a comunidade não está olhando para a Santa Casa. O hospital precisa da ajuda da população. Com certeza não vai ser suficiente, mas vai ajudar muito”, diz o provedor da Santa Casa de Santos, Felix Alberto Ballerini.
 
A crise da Saúde na Baixada Santista
 
Cubatão 
 
A UTI neonatal do Hospital Municipal seria desativada, até ontem, porque médicos, com salários atrasados, estavam se desligando do hospital. Haveria ainda falta de medicamentos e insumos. Uma criança chegou a ser transferida para Praia Grande e outra permaneceu no local.
 
Em nota, a Prefeitura afirma que o problema foi pontual. “Aconteceu após um grupo de médicos pedir desligamento por enfrentarem problemas com a antiga gestora do Hospital, a Pró-Saúde”. A Administração diz que a atual gestora do hospital já entrou em acordo com esses médicos para normalizar o atendimento. A Tribuna apurou que até a noite de ontem ainda não havia pacientes na UTI neonatal.
 
Guarujá
 
O único hospital a atender a rede pública de saúde, o Hospital Santo Amaro (HSA), anunciou que a partir do dia 15 só vai atender urgências e emergências, cancelando consultas, exames, cirurgias e fechando a maternidade. O motivo seria a falta de repasses de dinheiro por parte da Prefeitura e de planos de saúde.
 
Em nota, a Prefeitura afirma que se reuniu com a direção do HSA e que foi acordado o não fechamento no dia 15. O HSA, contudo, desmente a nota e afirma que o fechamento ocorrerá no dia divulgado. 
 
São Vicente
 
A greve dos médicos tem influenciado o atendimento nas unidades de Saúde municipais. Na área continental, por exemplo, como publicado na edição de A Tribuna desta quinta-feira (3), não havia pediatra. A Prefeitura, através da Secretaria de Saúde, enviou nota à redação, a respeito do caso. Nela, afirma que “dada a falta do profissional pediatra no mercado, as unidades de Pronto Atendimento disponibilizam o clínico geral para realizar o atendimento primário da criança”.
 
Após o atendimento, caso se faça necessário, a criança é encaminhada ao Hospital Municipal, que tem escala de pediatras, nos casos graves. Já nos de menor gravidade, o clínico orienta a “procurar atendimento de pediatra” na UBS. A nota salienta que “a falta de pediatras não é exclusiva da Cidade”, pois a carência de profissionais “acontece em todo o Brasil”.
 
Fechar é “impensável”, diz prefeito
 
O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), diz acompanhar de perto a situação da Santa Casa, que, para ele, é similar à de todos os hospitais públicos. E garante que vai pedir ajuda aos governos Federal e Estadual para reverter a situação dramática.
 
“O fechamento é impensável, está fora de cogitação. Não é possível imaginar a Baixada Santista sem o funcionamento da Santa Casa”, afirma. Da parte da Prefeitura, ressalta ele, todos os repasses para o hospital estão em dia. “Vamos levar essa situação sensível, especialmente no fim do ano, quando tem pagamento de décimo terceiro, para Estado e União”, diz o prefeito.
 
Barbosa afirma que o repasse do empréstimo pelo BNDES é prioridade, mas esbarra em questões burocráticas. “Fui ao Rio de Janeiro junto com o provedor, tenho tratado diretamente com o diretor do BNDES. Agora estamos na fase conclusiva, a ideia que o dinheiro seja liberado nos próximos dias”.
 
Mais problemas
 
A crise na saúde da região, com cidades paralisando atendimentos, já reflete no aumento da procura pelas unidades públicas de Santos. Segundo o prefeito, este ano o número de pacientes já aumentou quase 25%, com grande procura de pessoas dos municípios vizinhos.
 
“Santos é a cidade polo e tem uma sobrecarga na sua rede de atendimento, em todas as áreas, mas a saúde é especialmente impactada. Já sentimos reflexos no nosso complexo na Zona Noroeste, com atendimento bem superior”.
 
O prefeito teme que a rede municipal entre em colapso. “Temos clareza do papel de Santos na região, mas ser solidário não significa assumir responsabilidade acima da nossa capacidade. As notícias de fechamento de unidades (em outras cidades) são muito negativas”.
 
Limites
 
O orçamento tem limites e os serviços da Cidade não podem ser comprometidos, diz o chefe do Executivo santista. 
 
“E a crise também está relacionada ao desemprego, com famílias perdendo planos de saúde. Todas essas variáveis devem ser consideradas pelos gestores”.