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SANTA CASA RETOMA BUSCA ATIVA PARA DOAÇÃO DE CÓRNEAS

A CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) da Santa Casa de Piracicaba retomou a busca ativa para doação de córneas que, por motivo da pandemia estava suspensa sendo mantida apenas a busca para doador com diagnóstico de morte encefálica. A enfermeira coordenadora da CIHDOTT, Jacqueline Defavari Bonilha destaca a importância da doação de órgãos, pois é a tão esperada resposta para milhares de pessoas com insuficiências orgânicas terminais ou cronicamente incapacitantes. É, na maioria dos casos, a única oportunidade de restabelecer a saúde e, sem dúvida, a esperança de uma nova chance de vida.

Chance esta que Joyce Scarpari Gomes Berno 31, teve por duas vezes. Em setembro deste ano, ela passou pelo segundo transplante de rim, após o primeiro órgão recebido há 18 anos - em 2002 - entrar em falência. De acordo com ela, sua deficiência renal foi constatada ainda na gestação e desde muito pequena enfrenta os desafios e obstáculos de um doente renal crônico. Foram anos de infecções urinárias e restrições, até que foi necessário iniciar a diálise peritoneal e, então, o transplante se tornou a única alternativa.

“Minha mãe se propôs a ser a doadora do rim em ambas às vezes, mas eu sentia que não podia ser ela. Meu médico disse que o mais adequado seria me cadastrar na fila do transplante e, por milagre de Deus, 21 após ser cadastrada na fila, os médicos de São Paulo me chamaram, pois havia encontrado um doador combatível. E então, 18 anos após o primeiro transplante, precisei de um novo rim, e por dois meses e meio vivi tudo de novo: diálise peritoneal, exames, testes de compatibilidade até, novamente, receber a boa notícia: meu novo rim havia chegado”, disse.

Outra história de luta em busca do transplante é a da Alice, de 9 anos. De acordo com sua mãe, Valquíria Giatti a deficiência renal de Alice foi descoberta no último ultrassom antes do parto, quando notou-se que seus rins estavam de tamanho maior Ela nasceu, 2,5 meses antes do previsto, em São Paulo. Após cerca de 70 dias internada devido à dificuldade de controlar sua pressão, por causa de uma doença genética, rins policísticos recessivos e doença de Caroli, ela veio para casa, em Piracicaba.

“Nossa pequena guerreira passou por muitas provações tanto alimentares quanto físicas, mas sempre com muita alegria e determinação. Imagine uma criança com sedenta por um copo de água e não poder tomar, pois mesmo para uma criança tão nova sempre tivemos em casa uma condição de sermos os mais honestos com ela. Nunca escondemos nada”, disse Valquíria.

Mas no último bimestre de 2018, Alice ela começou a ter infecções inexplicáveis, dores por todo o corpo. As atividades de seus rins estavam muito diminuídas e então, foi necessário iniciar a hemodiálise. “Isso nos fez perder o chão”, disse a mãe. Valquíria largou tudo em Piracicaba e em fevereiro de 2019 houve a possibilidade de voltar a São Paulo, e encontraram no hospital Samaritano uma das melhores equipes em nefrologia pediátricas do País.

A expectativa e a angústia da espera chegaram ao fim no último dia 9 de outubro, quando Alice recebeu um novo rim. “É inexplicável mensurar toda gratidão que estou sentindo neste momento, por isso reforço a importância de ser um doador de órgãos. Eu e minha família, que tivemos a felicidade de receber o amor de outra família que, em um momento de dor, de perda, teve a compaixão de dar à nossa filha uma nova esperança de vida, com liberdade e com muita alegria. Somos eternamente gratos a eles e a todas as famílias doadoras de órgãos”, disse Valquíria.

Agora, Alice se prepara para conhecer uma nova maneira de viver, pois não será mais preciso ‘ficar presa’ em meio a uma máquina, diariamente, por horas seguidas. “Estou muito feliz pela família da pessoa que doou o rim. Agradeço por ter pensado em mim naquele momento. Eu sempre faço oração para eles, pois ao todo, eles ajudaram 8 pessoas a terem uma vida melhor”, disse.

LISTA DE ESPERA

De acordo com a enfermeira Jacqueline Defavari Bonilha, a doação de órgãos ou tecidos é um ato de amor e solidariedade por meio do qual se permite que a vida continue e melhore a qualidade de vida daqueles que sofrem. “Cerca de 25 mil  pessoas estão à espera por um rim, apenas rim onde dependem de máquinas de hemodiálise para sobreviver. “Existem outras necessidades por outros órgãos como coração, pulmão, fígado, pâncreas, ossos, e outros, e sabemos que o transplante não é exclusividade dos adultos, existindo também crianças nesta fila aguardando com muita esperança de viver”.

Em março de 2020, de acordo com a Abto (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), 38.446 pessoas (entre adultos e crianças) estavam na lista à espera de um transplante. Só no Estado de São Paulo são 16.227. Desde que foi iniciado o controle de transplantes pela associação, em 1997, já foram realizados no País 120.796 transplantes de órgãos. Só de rim foram 83.500, sendo 57.034 nos últimos dez anos. “A recusa familiar ainda é a principal causa de não doação e o motivo para isto é a falta de informação”, enfatiza Jacqueline.

O diagnóstico de morte encefálica deve ser realizado obrigatoriamente por dois médicos e um exame complementar de acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), e quando concluído a família será informada e oferecido a oportunidade de doação de órgãos. O papel da CIHDOTT é o de identificar possíveis doadores com a finalidade de aumentar o número de notificações e captações e transplante. A CIHDOTT da Santa Casa de Piracicaba desenvolve este trabalho há mais de 10 anos e é responsável em capacitar os profissionais que atuam neste processo.

“Este trabalho nos trouxe muito aprendizado e constantes desafios, mas também ótimos resultados com o reconhecimento do Sistema Estadual de Transplante do Estado de São Paulo, que nos certificou como o hospital que mais captou córneas em 2018”, informa.

Dados da comissão revelam que foram obtidas 1572 doações de córneas e 66 doações múltiplos órgãos na Instituição. Lembrando que um doador de córnea ajuda duas pessoas a enxergar e um doador com morte encefálica pode ajudar até 10 pessoas que estão na fila aguardando por um órgão. Todos os anos a Santa Casa realiza o encontro de doadores e receptores de órgãos, para agradecer as famílias que doaram e celebrar a vida dos que receberam um novo órgão. Este ano, porém, devido à pandemia, não foi possível realizar o evento, mas a Santa Casa deixa a mensagem de agradecimento a todos que, no momento de dor ao perderem um ente querido, tiveram altruísmo para salvar outras vidas.

Para ser doador de órgãos, basta informar a família! Dessa forma, a vida continua.

 

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FOTO1 – Enfermeira coordenadora da CIHDOTT, Jcqueline Defavari Bonilha ressalta a importância de ser um doador de órgãos

FOTO 2  -  Alice, de 9 anos e seus pais: uma nova vida a espera após conseguir o transplante

FOTO 3 – Joyce Berno, 31, passou recentemente pelo segundo transplante de rim

 

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