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Os bilionários da saúde, o SUS e a Lava Jato

Um velho e conhecido axioma da área médica reza que Plano de Saúde só é bom, mesmo, para o seu proprietário. Raros são os clientes que discordam.

A máxima vem à baila no confuso Brasil de hoje no momento em que as colunas dedicadas a assuntos econômicos dos principais jornais noticiam com destaque, dado o seu peso no campo dos negócios, a compra por R$ 2 bilhões da participação do Banco BTG Pactual na Rede D’Or pelo Fundo Soberano de Investimentos de Cingapura, o GIC.

 
O BTG, que também é um fundo de investimentos, procura fazer caixa desfazendo-se daquele que considera um de seus melhores ativos, pressionado pela prisão esta semana de André Esteves, o presidente da empresa, pela Polícia Federal na 21ª. fase da Operação Lava Jato que investiga o vasto processo de corrupção que flagela a Petrobrás. Esteves caiu na companhia do senador Delcídio do Amaral, envolvido na tentativa de suborno do ex-diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró.
 
A Rede D’Or, hoje com mais de 30 hospitais (além de várias clínicas oncológicas e a rede de laboratórios de imagem Cardiolab, entre outros investimentos) é reconhecida como a maior estrutura privada hospitalar do país, com um valor de mercado entre R$ 18 e R$ 21 bilhões e um faturamento previsto para este ano de R$ 6,5 bilhões, um crescimento de 30% em relação a 2014 como informa o Valor Econômico. Seu criador e dono principal é o médico cardiologista carioca Jorge Moll Filho que atualmente mantém cerca de 60% das ações, depois de ter cedido 8,3% ao Fundo Carlyle, norte-americano, e 26% à BTG.

O grupo asiático GIC já adquirira 14% da Rede D’Or em 2013, mas agora decidiu investir mais no mercado brasileiro, em função da decisão do governo federal em janeiro deste ano eliminando as limitações à presença de estrangeiros no mercado nacional de saúde.
 
Em abril último a revista Exame publicou a reportagem “O mercado brasileiro de saúde produziu uma safra de bilionários na última década”, referindo-se aos casos de Jorge Moll; do dono da Operadora de Planos de Saúde Amil. Edson de Godoy Bueno, que a vendeu por R$ 10 bi à norte-americana United Health; ao cearense Francisco de Queirós da Rede de Farmácias Pague Menos; de José Seripieri Jr. da rede Qualicorp, todos classificados entre os homens mais ricos do país. No mesmo mês, falando à Associação Nacional de Hospitais Privados (www.anahp.com.br), o diretor de Planejamento Estratégico e Orçamento da Amil/United Health, Erwin Heuser, que prevê dobrar de tamanho a cada 3 ou 4 anos, declarou: “hoje, a grande maioria dos Planos de Saúde não têm margens superiores (de lucro) superiores a 2%.” Tudo isso é fortemente contraditório com a situação geral do atendimento à saúde no Brasil, visto pela população como um de seus maiores problemas, mas se explica em parte pela liberalidade das leis brasileiras nas quais é possível que a pessoa física – o dono do negócio - se aproprie dos lucros, descarregando as despesas e prejuízos na pessoa jurídica - a Operadora. 
 
Também é uma realidade estranha quando colocada no contexto mais amplo do SUS e do financiamento do setor saúde, responsável por gastos totais, em 2014, de R$ 448 bilhões, dos quais 51,7% couberam ao setor privado e os restantes 48,3% ao setor público (Ministério e Secretarias estaduais e municipais). O bolo, equivalendo a 8,1% do PIB, é considerado – praticamente pela unanimidade dos analistas - como insuficiente para que a população tenha e reconheça um bom sistema de proteção. A situação piorou bastante neste 2º semestre pelos cortes sucessivos de recursos do orçamento do Ministério da Saúde feitos pela equipe econômica do governo Dilma Rousseff. Como é possível, perguntam-se atônitos os brasileiros, que um setor com tantos problemas e alvo de tantas críticas, possa produzir tanta riqueza, fazendo a fortuna e a alegria de uns poucos ao lado da pobreza dos usuários dos produtos que comercializam?